ATA DA QUADRAGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 02-12-1999.

 


Aos dois dias do mês de dezembro do ano de mil novecentos e noventa e nove reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e vinte e dois minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Biólogo Francisco Mauro Salzano, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 161/99 (Processo nº 2927/99), de autoria da Vereadora Tereza Franco. Compuseram a MESA: o Vereador Eliseu Sabino, 3º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor Francisco Milanez, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Homero Dewes, representante da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; o Senhor Sandro Bonatto, representante da Reitoria da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS; a Vereadora Tereza Franco, Secretária "ad hoc". Ainda, durante a Sessão, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondência alusiva à presente solenidade, de autoria dos Deputados Paulo Odone e Adilson Troca; do Delegado Luís Fernando Tubino; do Senhor Pedro Cezar Dutra Fonseca, Diretor-Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa no Rio Grande do Sul - FAPERGS. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Sônia Santos, em nome das Bancadas do PDT, PSDB, PSB e PFL, destacou a justeza da presente homenagem, discorrendo sobre a vida profissional do Senhor Francisco Mauro Salzano, cuja atividade realiza-se em uma área essencialmente voltada para o futuro como o é a pesquisa, onde resultados imediatos não são viáveis, exigindo constância e determinação na busca dos objetivos traçados. O Vereador Giovani Gregol, em nome da Bancada do PT, saudou o Homenageado, declarando ser Sua Senhoria exemplo de dedicação e amor à vida, possuindo o Senhor Francisco Mauro Salzano inúmeros trabalhos publicados, com uma produção científica de qualidade ímpar que lhe garantiu ser reconhecido nacional e internacionalmente. O Vereador Luiz Braz, em nome da Bancada do PTB, congratulou-se com a Vereadora Tereza Franco pela proposta de concessão do título hoje entregue. Analisou a importância da educação, da ciência e da tecnologia na sociedade atual, registrando o transcurso dos cinqüenta anos de criação do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PPB, dizendo ter sido colega do Senhor Francisco Mauro Salzano, teceu considerações acerca do significado do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, como o reconhecimento do povo porto-alegrense ao trabalho realizado pelo Homenageado em prol do desenvolvimento científico e humano da Cidade. A Vereadora Clênia Maranhão, em nome da Bancada do PMDB, expressou sua admiração pela atuação profissional do Homenageado, ressaltando a conotação humana dada pelo Senhor Francisco Mauro Salzano às pesquisas científicas efetuadas, sempre na busca do conhecimento embasado na ética e na devida percepção do quanto a ciência pode intervir, positiva ou negativamente, na vida das pessoas. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, falou da importância da pesquisa científica para o desenvolvimento do homem, defendendo o trabalho de pesquisa realizado nas universidade e a necessidade de conscientização da comunidade para a luta contra a possibilidade de desestruturação desse trabalho em nosso País. Após, o Senhor Presidente convidou a Vereadora Tereza Franco e o Senhor Francisco Milanez a procederem à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Francisco Mauro Salzano, e a Vereadora Tereza Franco procedeu à entrega de exemplar do “Porto Alegre: Que Bem Me Faz o Bem Que Te Quero", de autoria dos Poetas Luiz Coronel e Luiz de Miranda. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Francisco Mauro Salzano, que agradeceu o título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e quarenta e cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Eliseu Sabino e secretariados pela Vereadora Tereza Franco, Secretária "ad hoc". Do que eu, Tereza Franco, Secretária "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 2º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Eliseu Sabino): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Biólogo Francisco Mauro Salzano. Convidamos para compor a Mesa o Representante do Senhor Prefeito Municipal, Sr. Francisco Milanez; Sr. Francisco Mauro Salzano; Representante da Reitoria da Universidade Federal do RS - UFRGS, Prof. Homero Dewes; Representante da Reitoria da Pontifícia Universidade Católica do RS - PUCRS, Prof. Sandro Bonatto. Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Dando prosseguimento a Sessão Solene de entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Biólogo Francisco Mauro Salzano, ouviremos o pronunciamento da Vera. Sônia Santos, que falará em nome da Proponente, Vera. Tereza Franco e das Bancadas do PDT, PSDB, PSB e PFL.

 

A SRA. SÔNIA SANTOS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Na maioria das vezes em que subo a esta tribuna, venho para defender idéias, para me posicionar contra ou a favor de um projeto ou de um fato político ocorrido na nossa Cidade.

Hoje, subo a esta tribuna para falar em nome do PTB e desta Casa sobre uma pessoa que é um dos ícones no mundo da ciência, uma das figuras ímpares da nossa sociedade. A minha responsabilidade é redobrada por falar sobre uma pessoa que desenvolve uma das mais difíceis atividades, a atividade da pesquisa, que tem a responsabilidade com o resultado concreto e que objetiva o futuro.

Falar sobre o professor Salzano, como um simples professor com mais de 40 anos dedicado à cátedra, seria pouco. Falar do professor Salzano como um simples pesquisador, com mais de 40 anos dedicados à ciência, não seria suficiente; mas, dizer que, durante esses mais de 40 anos, este homem manteve as suas portas sempre abertas aos alunos, aos colegas e a todos aqueles que precisam esclarecer as suas dúvidas, buscar apoio, conselho, significa muito.

Muito mais do que conhecimento, o professor Salzano compartilha a vida. Isso é para poucos, para muito poucos, para pessoas raras que, segundo Brecht, são imprescindíveis. São imprescindíveis porque enxergam muito além de seus próprios olhos, com o olhar profundo que perscruta as coisas e as pessoas. As coisas, porque busca incessantemente o novo, um elemento que pode mudar o rumo da vida; as pessoas, porque consegue como poucos alcançar a alma humana, sondar aqueles que serão propagadores do valor da ciência, aqueles que darão continuidade a sua luta, pessoas que são sabedoras que aqueles que têm sua vida dedicada à ciência são pessoas que, na maioria das vezes, atuam no anonimato, que não têm no seu trabalho o brilho dos holofotes. São pessoas que sabem o que é uma vida abnegada, uma vida de dedicação, uma vida para poucas pessoas. São aqueles que buscam, incessantemente, os seus ideais. Os ideais que fazem ser possível suportar a dor de ver anos de pesquisa queimados na fogueira da Inquisição. Nas chamas que consomem o conhecimento que é fruto do trabalho. Ideais que fazem ser possível suportar a angústia de ver a intolerância ser ensinada nas escolas, de ver loucuras serem ditas nos meios de comunicação, numa tentativa clara de barrar o avanço natural da ciência. Ciência que, muitas pessoas, dizem ser incompatível com a fé e, aqui, Professor, peço licença para discordar!

Há um texto nas Escrituras Sagradas que diz que a fé é o firme fundamento das coisas que se espera e a certeza das coisas que não se vê. Eu digo isso, porque eu creio que a Ciência acredita nas coisas que não se enxerga e, na maioria das vezes, crê naquilo que levaria anos, até mesmo séculos, para ser provado.

O Senhor é um homem que tem tido o seu trabalho reconhecido; o Senhor recebeu inúmeros prêmios, bem como convites para compartilhar o seu saber por todo o mundo. Ele poderia ter escolhido qualquer lugar para trabalhar ou para residir, com vantagens muito maiores, imensamente maiores, mas ele, numa prova insofismável de amor a nossa terra, escolheu viver na Cidade do meu andar. Há muito tempo Porto Alegre já deveria ter lhe prestado esta homenagem e me sinto lisonjeada de estar, hoje, nesta tribuna, falando em nome do PTB. Eu desejo que a minha voz seja a voz dos seus alunos, dos seus colegas, dos seus amigos, desta Cidade, da Ciência, de todos aqueles que lhe admiram, para dizer, sinceramente, muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Giovani Gregol está com a palavra em nome da Bancada do PT.

 

O SR. GIOVANI GREGOL: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É com grande satisfação que eu também venho aqui, hoje, representar a maior Bancada, a Bancada majoritária, a Bancada do Governo nesta Casa, a Bancada do Partido dos Trabalhadores!

Concordo com tudo que disse aqui a Vera. Sônia Santos, que me antecedeu, que falou coisas procedentes e inteligentes. Mas, principalmente, concordo quando ela diz que esta homenagem lhe era devida há muito tempo.

É verdade, Vereadora, V. Exa. tem toda a razão. Por motivos óbvios, as pessoas que são da área científica, principalmente do meio universitário, inclusive as pessoas razoavelmente informadas das coisas do mundo e o que acontece na ciência em termos mundiais e locais, sabem que o currículo profissional e científico do Prof. Salzano é um currículo - entre aspas - quilométrico, com prêmios, com lauréis, com provavelmente centenas de trabalhos científicos publicados em periódicos da área, em todo o mundo, em várias línguas traduzidos, autor de várias obras, como autor único ou obras coletivas, enfim, é um iluminado das nossas ciências.

Porto Alegre, uma cidade que tem tradição nesta área, graças a Deus, tem essa honra, e esta Casa, que é a síntese política da Cidade, com os trinta e três Vereadores de várias Bancadas, tem a satisfação e a honra de fazer esta homenagem. Sinceramente, não sei se o Professor Salzano é porto-alegrense nato - e ele me faz sinal dizendo que não -, mas faço essa observação para aduzir que Porto Alegre já o adotou certamente, pelos grandes serviços prestados à humanidade e representando, de várias maneiras, esta Cidade e em especial a sua produção científica. Certamente, também, o Professor Salzano já adotou esta Cidade.

Quero também, mudando um pouco o pensamento, referir que nos últimos dias, por razões profissionais, estou lendo um grande autor. Gosto de ler os autores antigos, que estão meio fora de moda, alguns filósofos medievais. É bom, a gente aprende muito, e não estamos tão longe assim da Idade Média, nem para o bem e nem para mal, muitas coisas que estão acontecendo na nossa realidade fazem jus àquilo que a Idade Média não foi - diz-se que ela foi mas ela não foi -, a chamada idade das trevas. Muitas vezes penso que estamos mais nas trevas do que a chamada Idade Média. É verdade que as fogueiras não mais se acendem tão freqüentemente, mas muitos ainda são queimados de várias formas, não só nas fogueiras. Temos aí os nossos trabalhadores, as nossas crianças, os nossos idosos, a cidadania, em geral, queimada, incinerada, não-reconhecida como tal, com seus direitos. Mas, quero citar São Tomás de Aquino, grande pensador, independente de sermos ateus ou crentes - como eu sou, no caso, crente - independente de sermos católicos, é um pensador da humanidade. São Tomás e Santo Agostinho têm uma obra entre tantas, uma obra vastíssima. Santo Agostinho escreveu a Cidade de Deus. E eu nunca entendi o que é essa Cidade de Deus, de Santo Agostinho. Santo Agostinho explica e resume o seguinte: que nesta Terra, neste mundo, nesta dimensão, existem duas cidades. A Cidade de Deus, que não é uma cidade material, é uma cidade terráquea, não é no céu, não é abstrata, ela é muito concreta. Mas, a Cidade de Deus consiste, para ele, no conjunto dos homens e mulheres, no conjunto dos seres humanos que lutam pelo bem, que, mesmo errando, são predestinados à salvação. Ele um pouco acreditava na idéia da predestinação, da salvação, mas que sendo predestinados à salvação, portanto terem a eternidade como recompensa, já fazem o bem e o demonstram aqui neste mundo.

E existe a outra cidade, a Cidade do Demônio, a cidade daqueles que se pautam pelo egoísmo. E Santo Agostinho era tão ousado que chegou a escrever que existem pessoas - aí diziam que Cidade de Deus é a Igreja - como bispos e cardeais que não estão na Cidade de Deus. Ele, bispo, teve coragem de dizer isso e foi combatido por isso. Existem muitos clérigos que não estão na Cidade de Deus, estão no outro lado, na Cidade do Demônio. Enquanto existem muitos homens simples, até tidos como pecadores, humildes, que estão na Cidade de Deus.

O que é a Cidade de Deus, hoje? A ciência da qual o Professor Salzano, como biólogo, como geneticista, renomado em várias áreas, principalmente na área da genética humana, que diz muito a respeito da nossa época de transição para o novo milênio, em que o homem, aliás, falando em Deus, adquire verdadeiramente certas capacidades, pelo menos certas potencialidades que há menos de um Século eram tidas como atributos exclusivamente divinos, de manipular a vida, de criar clones, de desenvolver seres vivos ou alimentos transgênicos - pegaram um gen de um peixe e o colocaram num tomate, como já tem acontecido -, de ligar com o âmago, com o código essencial da vida, que há poucas décadas não era nem sequer conhecido, o DNA. Então, esse poder imenso que Deus nos deu através da nossa inteligência, através do nosso livre arbítrio, é óbvio ululante, como dizia Nelson Rodrigues, que esse conhecimento todo, pode, é e será utilizado pelas duas cidades: a cidade egoísta, que não tem um objetivo humanista, a cidade daqueles, o conjunto daqueles que só vêem, principalmente, ou quase que exclusivamente, o lucro, o enriquecimento mais rápido, maior possível, quando esse conhecimento é de conseqüências ambientais, sociais, humanas, biológicas, ecológicas e assim por diante, e aquela outra e essa se confunde, às vezes, trabalham um ao lado do outro, como disse Santo Agostinho, lembrando lá da Igreja, dos clérigos, um cara é da mesma Igreja, mas um está numa cidade e outro na outra. E certamente, não preciso dizer isso, onde eu quero chegar com essa conversa toda, o Prof. Salzano mostrou cabalmente, demonstrou, através da sua atividade, essa estatura de humanismo que os grandes, eu não digo só, mas que todos os grandes cientistas, pesquisadores, homens de ciência demonstraram através de toda a história da humanidade, daqueles que estiveram na linha de frente pelo avanço da humanidade, pela melhoria das condições de vida, pelo entendimento da tolerância, da ciência como instrumento de engrandecimento e de congraçamento entre os homens, e não o contrário. E não é numa hora qualquer que isso acontece, e que nós dizemos isso e que trabalha, Professor, que continua pesquisando, não precisava mais lauréis, já é muito reconhecido mas que continua trabalhando, dando um exemplo de dedicação a nossa Universidade, ao nosso “fazer ciência brasileira”.

Aqui no terceiro mundo se faz ciência sim - ao contrário do que muitos dizem e pensam, inclusive, o brasileiro -, de altíssima qualidade. Esse é um caso que demonstra isso muito concretamente.

Mas, para concluir, o Prof. Salzano é um exemplo - e temos muitos outros - mas é um exemplo muito destacado daqueles que usam o conhecimento em função da humanidade, de um verdadeiro humanismo, com “H” maiúsculo, não que eles sejam contra o lucro, contra o empresariado, nada de bobagens desse tipo, mas que tem claro o objetivo, a relação entre fins e meios, porque se nós queremos atingir, se nós queremos auxiliar o homem nessa sua cruzada, às vezes muito difícil, nessa terra, nesse planeta, onde o próprio planeta está comprometido pela própria ação equivocada do homem e de uma ciência imediatista, que eu denunciava antes. Existem outros que, necessariamente, nos mostram que é possível manter a coerência e fazer uma vida, desenvolver uma atividade uma vida inteira de pesquisa, de ensino, num sentido diferente e melhor, mesmo que, aparentemente, muitas vezes, os objetivos não sejam atingidos em termos de resultados sociais no mesmo curto tempo e com a mesma eficácia.

Às vezes, aparentemente, nos parece que o mal vence, mas isso é só uma aparência. É difícil acabar com ele, acho que ele nunca acabará, faz parte da dialética das coisas da realidade, mas ele também não consegue acabar conosco, com pessoas como o professor.

Eu concluo por aqui, já me delonguei bastante. E repetindo, é uma grande satisfação para esta Casa, para o nosso Partido dos Trabalhadores, para a Prefeitura Municipal que aqui mandou o seu representante, para mim, particularmente, hoje conhecendo-o, nunca tinha tido o prazer, já li as suas obras, já conheço o seu renome, evidentemente, como professor, mas agora poder fazer esse congraçamento, homenageando-o dessa forma humilde, mas sincera. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar aqui o recebimento de alguns telegramas e cartas ao Prof. Salzano. (Lê.)

“Agradeço o gentil convite para participar da Sessão Solene destinada a entregar o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao biólogo Francisco Mauro Salzano.

Impossibilitado de participar devido a compromissos de agenda anteriormente assumidos, desejamos votos de pleno êxito no evento.

(a) Presidente da Assembléia Legislativa, Deputado Paulo Odone.”

 

Temos outra correspondência:

“Temos a grata satisfação de cumprimentá-lo. Acuso o recebimento do convite para participar da Sessão Solene para a entrega do título honorífico de Cidadão Emérito ao Biólogo Francisco Mauro Salzano, a se realizar no dia 02 de dezembro. Impossibilitado de comparecer, em razão de compromissos firmados no Estado, agradeço e aproveito para, na pessoa de V. Exa., cumprimentar a Vereadora proponente, assim como o ilustre homenageado.

(a) Deputado Adilson Troca, Líder da Bancada do PSDB.”

 

“Prezado senhor, agradecemos o convite para a Sessão Solene destinada à entrega do título de Cidadão de Porto Alegre ao biólogo Francisco Mauro Salzano. Parabenizamos pelo evento, desejando pleno êxito em sua realização.

(a) Delegado Luís Fernando Tubino, Chefe de Polícia.”

 

Essas correspondências - registramos - foram recebidas pela Presidência da Casa.

Acusamos a presença do Ver. Gilberto Batista, da Bancada do PTB, e da Vera. Clênia Maranhão, da Bancada do PMDB.

O Ver. Luiz Braz está com a palavra. Fala pela Bancada do PTB.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Exmo. Sr. Vereador Eliseu Sabino, presidindo os trabalhos nesta tarde. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu ouvi, com muita atenção, a Vera. Sônia Santos, que, como sempre, aqui desta tribuna, demonstra muito conhecimento quando está discorrendo sobre os assuntos que a trazem aqui. A Vereadora falava, com bastante vigor, do talento do Prof. Salzano.

Ouvi, depois, o meu querido amigo Gregol, que, desta tribuna, falava das duas dimensões do homem que nós estamos homenageando: o homem cientista e o homem como pessoa, um excelente ser humano.

Eu vou aproveitar a segunda dimensão para dizer o seguinte: não poderia haver uma autora melhor para este título que está sendo oferecido ao Prof. Salzano do que a minha querida amiga Tereza Franco, que nós conhecemos aqui como Nega Diaba. Eu não conheci, nos meus dezessete anos aqui nesta Câmara Municipal, uma pessoa que tivesse uma dimensão humana tão grandiosa, como esta mulher que é a autora deste Projeto de Lei que homenageia, hoje, o Prof. Salzano.

Por isso, antes de render as minhas homenagens ao Prof. Salzano, rendo-as à autora deste Projeto, porque ela nos dá esta oportunidade para, da tribuna, fazer a saudação a este expoente da ciência que temos aqui no Rio Grande do Sul. Parabéns à minha querida amiga Nega Diaba, Tereza Franco.

É com máxima satisfação que ocupo esta tribuna para falar, em nome da Bancada do PTB nesta Casa, sobre um professor, porto-alegrense por opção, cujo trabalho transcende nossas fronteiras.

Eu, também porto-alegrense por opção, fico feliz quando pessoas desta terra conseguem levar uma imagem séria e positiva de nossa Cidade além de suas dimensões geográficas, em contraponto a uma visão obtusa que só vê defeitos.

Todos nós, como gaúchos, brasileiros, nos orgulhamos quando um profissional desta terra vence as barreiras e limitações impostas pelo mundo, por seu trabalho, por sua dedicação e determinação e - por que não? - por sua teimosia. Pois todos sabemos que um pesquisador e intelectual tem que ser muito teimoso, determinado, para obter sucesso no seu trabalho.

Em discurso, sempre falamos de educação e cultura, porém, a prática é, na maioria das vezes, um pouco diferente. Nenhuma grande nação no mundo chegou a um grau de desenvolvimento maior abrindo mão da pesquisa, da educação e do conhecimento.

O bem-estar e o desenvolvimento da sociedade passam, necessariamente, pela valorização da ciência e da tecnologia e, consequentemente, só serão conseguidas com o respeito e o incentivo ao pesquisador.

Quando esta Casa procura homenagear o senhor, um professor, um cientista, pesquisador, quer deixar claro seu compromisso com o futuro, com o conhecimento, pois entendemos que a humanidade chegou até aqui porque pessoas como o senhor não se limitaram a ler livros de uma biblioteca, mas foram mais longe, procuraram entendê-los, questioná-los, num brilhante processo dialético, ousaram buscar o novo.

Com certeza, se não fosse essa obstinação, ainda estaríamos cultuando o fogo, ou, conforme o gosto de outros, dogmas obscuros e conservadores.

E, absurdamente, neste transpor de milênio, ainda temos de condenar a impropriedade de posturas que, à luz de um autoritarismo reacionário e de dogmas políticos, buscam menosprezar o papel da ciência e desprezar o pesquisador.

Queremos deixar claro o entendimento desta Bancada de que a ciência não é de esquerda, de direita, do sul ou no norte. Ciência é ciência e deve ter exclusivo compromisso com o conhecimento, a humanidade e o futuro. Não pode ficar presa a governos.

Imaginem Galileu ou Copérnico se ficassem presos a Igreja?

Temos que ter sempre presente em nossas mentes o mal que foi para a humanidade e para o conhecimento o que fizeram, em nome de uma pseudociência, um Hitler, Mussolini, Franco, Komehini, Pol Pot e tantos outros que infelicitaram o futuro dos homens.

Desculpem-nos os presentes, mas, num momento em que se privilegia a fé cega, inquestionável ante a razão e o bom senso, é mais do que oportuna a homenagem a um homem da ciência que, dignamente, representa os que teimam em não deixar que rotulem o conhecimento.

Para concluir, quero saudar na pessoa do nosso homenageado, o Dr. Salzano, o aniversário de 50 anos da criação do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pelo Professor Antônio Rodrigues Cordeiro seu orientador. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Comunicamos que a saída da Vera. Sônia Santos do Plenário deve-se a uma reunião a que ela tem que comparecer neste momento.

Recebemos mais uma correspondência endereçada ao Prof. Salzano:

“Nesta data em que a Câmara Municipal lhe presta justa homenagem, a Fundação de Amparo à Pesquisa do RS - FAPERGS - associa-se às manifestações, em reconhecimento a um de nossos maiores pesquisadores e cientistas.

Queira receber nosso abraço e reafirmarmos que o Senhor constitui para nós exemplo de trabalho, dedicação, ética e integridade pessoal, profissional e de ser humano. Com os cumprimentos de Pedro Cezar Dutra Fonseca, Diretor-Presidente da FAPERGS.”

O Ver. João Dib está com a palavra, pela Bancada do PPB.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Antes de mais nada, quero agradecer à Vera. Tereza Franco pela oportunidade que me concede, neste momento, de um reencontro, depois de cinqüenta e dois anos, quando Salzano e eu deixamos os bancos do Colégio Júlio de Castilhos e partimos para a vida, marcando os nossos caminhos. Tenho certeza de que, quando deixávamos o Colégio Júlio de Castilhos, nem eu nem o Salzano esperávamo-nos reencontrar na Casa do Povo de Porto Alegre, ele sendo justamente o homenageado e eu um dos que o saúda. Mas ele realmente merece.

Salzano, eu sempre digo que o tempo não passa, nós é que passamos sem que ele seja alterado. Mas, ainda que o tempo não passe e nós passamos, ao passarmos, marcamos profundamente o tempo. Marcamos com as nossas alegrias, experiências, solidariedade, doação e com tudo aquilo que podemos fazer de bom pela coletividade. E todo esse teu trabalho é a razão pela qual hoje o cachoeirense passa a ser oficialmente porto-alegrense, passa a ser Cidadão de Porto Alegre, numa iniciativa da Vera. Tereza Franco, apoiada por unanimidade nesta Casa.

O Professor Luiz Glock me dizia, antes do início da Sessão, que o Professor Romeu Muccillo dizia que a evolução da ciência tende à arte, quando atinge a plenitude em benefício do homem, e que Salzano conseguiu transformar a Biologia em arte. Isso me faz lembrar uma pequena história que eu ouvi do ex-Prefeito Guilherme Socias Villela, que dizia que uma pessoa olhava dois operários trabalhando. Um trabalhava dizendo impropérios, brabo, cansado e irritado; o outro sorria e cantava. Aparentemente, os dois faziam a mesma coisa e ele não conseguia entender por que aquela diferença de posicionamento de um e de outro. Perguntou para aquele que estava brabo o que ele estava fazendo e ele respondeu: “O senhor não vê que eu estou fazendo uma parede?” O homem se recolheu, tudo bem, foi lá para o segundo e perguntou: “Meu amigo, disse ele, sorrindo, o senhor não vê que eu estou construindo uma catedral?”

E o Salzano, ao longo do tempo, tem tentado e está construindo uma catedral. A catedral sempre leva tempo e é por isso que o Salzano continua construindo-a e nós queremos que ele construa cada vez mais esta catedral, mais e mais bela com o seu trabalho. Isso vai dar felicidade para todos nós, e agora temos o Salzano como Cidadão de Porto Alegre.

Mas, querido amigo Salzano, ninguém marca o tempo sozinho. E, aí, nós precisamos lembrar a Teresa, a esposa, e os filhos, Felipe e Renato, que, em horas de dificuldades, de provações, estavam lá para dizer que estavam ao teu lado, que continuavas merecendo a atenção total deles e que tinha deles o apoio para que continuasse construindo a catedral. E nós formulamos os votos, agora, de que continues nesta catedral, que continues cuidando dos teus amigos, dos teus colegas e sejas muito feliz. Saúde e paz. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Vera. Clênia Maranhão está com a palavra e falará em nome do PMDB.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A iniciativa da Vera. Tereza Franco possibilitou ao Parlamento Porto-Alegrense um acompanhamento mais de perto do mundo da ciência. O Prof. Salzano é daqueles cientistas que, por sua atuação, extrapola os caminhos da ciência e da tecnologia do mundo acadêmico e ocupa a preocupação da vida e da sociedade. Estava lendo a sua biografia e imaginando como esse cachoeirense - de Cachoeira do Sul - ocupa Porto Alegre e, a partir da sua vida acadêmica em Porto Alegre, ocupa os espaços nacionais e entra no mundo da ciência mundial. O senhor sabe que, para os políticos, que sempre pensam na ampliação dos seus espaços, isso é uma coisa que nos impressiona muito, mas o que nos impressiona, extremamente, na sua atuação, é que o senhor fez isso, não pelos caminhos do discurso, mas, sim, pelos caminhos do descobrimento, da pesquisa e do aporte de conhecimentos para a sociedade.

Eu ficava imaginando, como, talvez, um cientista trabalha de forma solitária, como, unilateralmente, desenvolve os seus trabalhos e como sua trajetória é linear.

Queria dizer que, além de todas as contribuições que o Senhor deu ao mundo da genética, ao mundo acadêmico, ao da ciência e da tecnologia, acho que o Senhor também deu uma lição que extrapola o conteúdo técnico dos seus trabalhos. O Senhor mostrou que a ciência se faz com polêmica, com combate; o Senhor mostrou que a ciência tem o papel de intervir na vida das pessoas.

O que me fascina, em conhecendo seu trabalho é, exatamente, essa sua capacidade de pôr a sociedade para pensar sobre aquilo que faz, mesmo que nós, como leigos, não compreendamos plenamente o conteúdo do seu trabalho técnico. Mas,  a sua motivação para expor, com absoluta coragem, o pensamento e o fruto da sua pesquisa populariza, de uma certa forma, o trabalho científico.

Nós, que vivemos no mundo da política, com uma agenda extremamente sobrecarregada, talvez a maioria dos Vereadores, assim como eu, o conhecemos pelos livros, pela sua polêmica como Ministro da Ciência e da Tecnologia, com suas perguntas audaciosas ao Presidente da República sobre os recursos para o CNPQ, pela sua atuação de colocar a divergência, o diálogo, o debate e as opiniões na SBPC, e a iniciativa da Vera. Teresa Franco nos deu a possibilidade de, além de conhecê-lo por seu trabalho técnico e por sua postura cidadã, nós o conhecermos pessoalmente através desta homenagem da Câmara.

Relembro, aqui, o quanto é emblemático o fato da Vera. Tereza Franco ter sido a autora desta proposta. Autora de uma proposição que nos causou uma inveja branca muito grande. Todos nós, Vereadores, quando lemos a proposta da Vera. Tereza Franco, pensamos que gostaríamos de ter sido, cada um, o autor desta proposta. Mas, ninguém mais do que ela deveria tê-la feito, porque a Vera. Tereza Franco simboliza a entrada de uma representação popular e de um setor que vive uma história enorme de exclusão. E ela traz para esta Casa este aporte de trajetória popular. É, exatamente, talvez, seja esse o sonho daqueles que querem construir uma sociedade com bem-estar, é ver que a ação da ciência, o limite da ciência extrapole o mundo acadêmico e o mundo restrito dos próprios cientistas e venha ao mundo e à vida das pessoas. Penso que aí nós, os políticos, estaremos tendo a possibilidade de exercer melhor a nossa atividade, porque ela será calcada no conhecimento e, seguramente, os cientistas, quando conseguirem universalizar, democratizar, popularizar, dar maior visibilidade aos produtos que constroem os frutos do seu conhecimento, seguramente, estarão dando para a ciência uma nova dimensão e seguramente se considerarão ainda mais produtores do conhecimento. Essa integração é fundamental, porque quem produz ciência, com certeza, gostaria de ver a sociedade usufruindo dos benefícios do seu conhecimento. E nós que lutamos, enquanto políticos, pela modificação da sociedade sabemos que jamais poderemos construir uma sociedade melhor, se não tivermos o respaldo da ciência e do conhecimento. Muito obrigada.

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra pelo PPS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Andou muito bem a Vera. Tereza Franco ao trazer para a Câmara de Porto Alegre o nome do Prof. Francisco Mauro Salzano para receber esta homenagem.

Esta Casa tem dedicado esses títulos honoríficos a várias personalidades, mas hoje, excepcionalmente, esta homenagem me toca muito, porque esta Casa é muito escassa na homenagem a personalidades científicas. Homenageamos personalidades do mundo social, político, literário, esportivo, cultural, mas os cientistas aqui entram de vez em quando, e por isso a excepcionalidade que nos agrada.

Conheço o Professor Salzano de muito tempo. Quando ingressei na Faculdade de Filosofia, o Professor Salzano já era um nome conhecido no Magistério da nossa Universidade, ali no curso de Ciências Naturais, no velho prédio da Faculdade de Filosofia. As suas culturas de drosófilas ninguém mais vai esquecer. Foi ali que começou toda esta história da genética, na qual o Professor Salzano enveredou e se tornou um nome internacional.

Particularmente, me sinto muito confortável ao prestar esta homenagem, porque através do meu Partido instituímos, em Porto Alegre, o Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia. Foi uma proposta nossa, porque o meu Partido, e eu, acredita que o futuro da humanidade está intimidamente ligado a este processo de desenvolvimento da ciência e o mundo de hoje comprova isso cabalmente, não precisamos demonstrá-lo.

O Professor Salzano foi inexcedível na busca, no aprofundamento, na difusão desse conhecimento. A prova disso são as centenas de alunos seus que hoje estão desenvolvendo trabalhos de ciência, em vários setores da sociedade.

Gratifica-me também a posição da nossa universidade neste processo, porque, não fosse este suporte, não sei se o Professor Salzano, se a sociedade como um todo teria tido os resultados que tem hoje destas pesquisas, destes descobrimentos, deste conhecimento. A Universidade tem um papel fundamental neste processo e por isso somos pela universidade pública, pela universidade que temos aí e que está sendo atropelada. É preciso que a sociedade tome conhecimento deste processo de degradação da nossa Universidade Pública. É ali que reside, ainda, o maior núcleo de pesquisa que tem este País, que é tão pobre nesse campo.

Por isso, Professor Francisco Mauro Salzano, Porto Alegre sente-se muito honrada em tê-lo doravante entre os seus Cidadãos Honorários, porque representa para nós um ponto de confluência em comum.

O nosso Conselho de Anciãos vai ter, provavelmente, a participação do novo concidadão para incutir nos nossos Cidadãos Honorários uma pitada de um outro ingrediente, que não seja aquele rotineiro das questões comuns tratadas nesta Casa.

É preciso que a sociedade como um todo se conscientize de que o conhecimento vai ser, já é, cada vez mais a moeda fundamental do próximo tempo.

O homem sem conhecimento não vai valer absolutamente nada.

Nós vamos trocar as nossas relações de valores daqui por diante, não vai ser mais o ouro, a terra, a propriedade física que vai valorizar o ser humano, vai ser o que ele tiver na sua cabeça, na sua memória. Daí por que alguns mais afoitos estão tentando hegemonizar desde agora o processo de difusão do conhecimento.

Não é por nada que as redes de informática, de telefonia, de televisão estão se concentrando cada vez mais em menos mãos, é o controle da mente humana. A isso é que a sociedade que tem que reagir.

O Prof. Francisco Mauro Salzano há anos que vem plantando esta semente e nós políticos temos que entender este processo e fazer ver à sociedade que ela depende da democratização desse processo para sobreviver. Sem democracia, nós não chegaremos a lugar nenhum. E democracia não é democratismo. Democracia é o pleno exercício do direito de cada cidadão, de se fazer representar e de se fazer respeitar.

Agradou-me ouvir os discursos desta tarde, porque nós levantamos a ponta de um véu: a questão da ciência como elemento natural a ser inserido na sociedade. E aí eu costumo e sei distinguir entre a questão de fé e a questão da ciência. A questão da ética, nós teríamos que ter mais tempo para aprofundar esse discurso, mas uma coisa é a ética científica, que é diferente da questão da fé. Não entro na questão religiosa, mas acho que não há relação direta entre fé e ciência. Digo fé, não digo religião. É outra coisa. Não me compete entrar nisso, porque pertenço a uma vertente de pensamento que afasta essa discussão.

Para finalizar, Professor Francisco Mauro Salzano, muito prazer em revê-lo, agora, na Casa do povo e constituindo parte da cidadania oficial de Porto Alegre. O senhor, que já era um cidadão desta Cidade. E, sobretudo, porque a sua presença aqui, mais uma vez, honra o mundo científico, o mundo universitário e, a partir de agora, vai honrar a cidadania porto-alegrense. Muito obrigado pela sua colaboração. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento, vamos proceder à entrega do título de Cidadão de Porto Alegre e também de uma medalha ao biólogo Francisco Mauro Salzano. Para tanto, convidamos a proponente desta Sessão Solene, Vereadora Tereza Franco, e o representante do Sr. Prefeito Municipal, Sr. Francisco Milanez, para entregar respectivamente o título e a medalha.

 

(Procede-se à entrega do título e da medalha ao Sr. Francisco Mauro Salzano.)

 

A Vera. Tereza Franco fará a entrega ao Professor Mauro Salzano de um livro intitulado “Porto Alegre que Bem me Faz, o Bem que te Quero”, dos poetas Luís Coronel e Luís Carlos de Miranda.

 

(É feita a entrega do livro.)

 

Dando prosseguimento, então, a esta Sessão Solene, nós concedemos a palavra ao nosso homenageado Francisco Mauro Salzano.

 

O SR. FRANCISCO MAURO SALZANO (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu estou, naturalmente, muito emocionado e imensamente gratificado pela homenagem que eu estou recebendo.

Porto Alegre é a cidade dos meus amores. Minha mãe ia à Cachoeira do Sul para ter os filhos, sob a proteção da família, mas pouco depois, ela retornava para Porto Alegre, onde se desenvolveu toda a minha existência com pausas de, no máximo, um ano para aperfeiçoamento e especialização em São Paulo, Estados Unidos e Inglaterra.

Na verdade, a minha área de distribuição, o chamado território, em linguagem ideológica, foi ainda mais localizada, semi-restrita. É uma região que engloba o Parque Farroupilha, o Instituto de Educação, o Bom Fim e o antigo Caminho do Meio, onde finalizava a Protásio Alves, antes do desenvolvimento do Bairro Petrópolis.

Vivíamos em um sobrado, localizado na Av. Venâncio Aires, perto do que é agora o Hospital de Pronto Socorro.

Na época, havia ali um mercado municipal e um prédio do Departamento Estadual de Saúde, no qual trabalhava o meu pai, que era médico sanitarista.

Posteriormente, o sobrado foi negociado com uma firma construtora que instalou no terreno prédios com apartamentos, entre os quais, foram destinados três apartamentos, respectivamente, às minhas duas irmãs e a mim.

Ia lá, onde moro até hoje, com quatro apartamentos ocupados pela nossa família.

Eu cursei o primeiro grau no Instituto de Educação Flores da Cunha de 1936 a 1939.

Durante o primeiro ano, acompanhei, nas minhas idas ao colégio, a transformação da antiga várzea, no atual Parque Farroupilha, no qual foi inaugurado um ano antes o Centenário da Revolução Farroupilha, com deslumbrantes fogos de artifício.

O segundo grau foi cursado no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, já relembrado aqui pelo Ver. João Dib, que na época funcionava onde hoje é a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O curso universitário foi desenvolvido lá mesmo, no Campus Central da UFRGS, Universidade a qual eu me incorporei como docente nos idos de 1952.

Cabe, aqui, uma digressão sobre a evolução da vida urbana. As cidades mais antigas surgiram na pré-história, mais precisamente no neolítico, mas a transição principal de uma civilização rural para a urbana aconteceu muito mais tarde. Além disso, o que quase invariavelmente acontecia era que as pessoas se deslocavam dos campos para morrerem nas cidades. E isso não ocorria por motivos aleatórios. Acostumados com o conforto da vida citadina, nós, muitas vezes, esquecemos o enorme papel que a ciência e a tecnologia tiveram para o desenvolvimento de condições sanitárias adequadas à nossa sobrevivência e ao nosso bem-estar físico. Isso nos traz à época atual, marcada por duas tendências: por um lado, o fantástico desenvolvimento científico, especialmente notável na área em que trabalho - a genética; por outro, movimentos equivocados anticiência, baseados na visão rousseauniana, também adotada por algumas religiões, de que nós vivíamos num paraíso que foi conspurcado por pecadores e consumistas desvairados.

Se é certo que nós somos uma espécie dominadora e destruidora, não é menos certo que não será atacando a tecnologia científica, por meio de ideologias muitas vezes ingênuas, que alcançaremos o bem-estar coletivo. O grande dilema de nossa época é o de conciliar o desenvolvimento sócioeconômico com o bem-estar social. Ao longo de todo o processo evolucionário, seja ele biológico ou cultural, o dilema liberdade versus organização esteve sempre presente. A possibilidade de mudança está, em geral, limitada pela estrutura da matéria pré-existente. Estas restrições quanto à maneira como deverá ocorrer a variabilidade não condiciona, no entanto, de maneira inexorável o que está para ocorrer. E o que se verifica é que nas linhagens em que há pouca versatilidade existe pouco futuro.

Também em nível das sociedades humanas, embora eles ocorram em todos os continentes, regimes que restringem drasticamente as liberdades, não têm vida longa. Parece ser inerente à condição humana a necessidade de duas coisas: primeiro, diversidade; segundo, liberdade de opções.

O filósofo argentino Mário Bunge que, sintomaticamente, teve que se exilar no Canadá devido às condições políticas do seu País, sustenta que a sociedade humana é um sistema que pode ser analisado em quatro subsistemas principais: o biológico, o econômico, o político e o cultural. O desenvolvimento biológico envolveria um aumento no bem-estar e no nível da saúde de uma população, conseqüência de melhorias na nutrição, moradia, vestimenta, hábitos de exercício e de convivência, etc. A concepção econômica de desenvolvimento coloca como meta a industrialização. Na idéia política, o que haveria seria uma expansão da liberdade, com o aumento e a segurança de direitos humanos e políticos.

Finalmente, o desenvolvimento cultural pressupõe o enriquecimento da cultura e a difusão da educação.

O que importa salientar é que cada um desses subsistemas interage com os outros, e o que se impõe é o progresso simultâneo de todos eles. Para isso são necessárias condições básicas nas quatro áreas e entre as culturais eu salientaria o secularismo - pois a cosmovisão extraterrena inibe a curiosidade sobre o mundo real -, a consideração pelo saber e o respeito pela criatividade.

Por outro lado, pode-se também cogitar sobre o que pode ser feito para dificultar o desenvolvimento científico. O mesmo Mário Bunge, ironicamente, propôs o termo ciencidiologia para a ciência que tivesse como objetivo destruir a ciência. As receitas para isto nos quatro subsistemas são, por exemplo: a- eliminar todos os intelectuais rebeldes; b - declarar uma guerra qualquer; c - restringir drasticamente as liberdades públicas; d - manter ou criar uma atmosfera ideológica anticientífica; e - tolerar algumas pesquisas aplicadas, nunca as básicas; f - premiar os pesquisadores medíocres e punir os originais. Segundo Bunge, a ciencidiologia é uma disciplina simples, ao alcance de qualquer subdesenvolvido, a tal ponto que muitos governantes a têm praticado sem saber!

Estamos no final do milênio e, na medida em que se aproxima o próximo, devemos lembrar que o sonho é um atributo eminentemente humano. A utopia é o país imaginário criado pelo inglês Thomas Morus -1480/1535 - há quatro e meio séculos, quando sonhava com a perfeição. Não importa que ele tenha sido decapitado aos 55 anos de idade por não querer reconhecer o poder espiritual do rei e nem - pior! - que tenha sido canonizado em 1935.

Na tônica deste país imaginário, eu concluiria pela esperança em um mundo no qual a maioria não ditaria o que devem fazer as minorias, onde todos teriam espaço para viver suas diferenças e onde a burocracia, a massificação, a exploração e o Estado dariam lugar à criatividade, ao trabalho cooperativo, à individualidade e à federação por afinidades. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do Ver. Paulo Brum, 2º Vice-Presidente desta Casa.

Professor e Biólogo Francisco Salzano, este Vereador que preside esta Sessão Solene de entrega do título honorífico de Cidadão de Porto Alegre, manifesta a V. Sa., em nome do nosso Presidente, Ver. Nereu D’Ávila, que, por certo, gostaria muito de estar aqui, as mais efusivas manifestações de solidariedade, congratulações e felicitações pelo recebimento deste título, que é apenas a confirmação daquilo que V. Sa. já é, através de seus atos representados durante anos em nossa Cidade. Portanto, receba os cumprimentos do Presidente da Casa, Ver. Nereu D’Ávila, através deste Vereador.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h45min.)

 

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